Abri os olhos.
Acordei de um sono sem sonhos.
O quarto estava completamente escuro.
Havia algo errado.
Meus olhos estavam despertos.
Minha mente estava desperta.
Eu via todos móveis do quarto através da penumbra.
Mas nem tudo estava normal.
Sentia como se alguém estivesse sentado sobre meu tronco.
Tentei me debater, mas meus braços não se moviam.
Minhas pernas não respondiam os apelos de minha mente.
E algo ainda mais aterrador:
Minha boca não se movia, não emitia qualquer som.
E também as narinas pareciam não respirar ar para os pulmões.
Uma terrível sensação de impotência.
Então vi claramente os fundos do quarto, ao pé da cama.
Uma escuridão sólida, como se tivesse massa, se avolumava.
Não tinha forma a princípio, mas emanava uma sensação sufocante.
E também projetava um propósito malévolo.
Meus olhos arregalaram-se ainda mais.
O desespero tomou conta de minha consciência.
A escuridão crescia e se propagava sobre meu corpo.
Todo aquele mal se projetava sobre mim.
Tomava conta de cada poro do meu corpo.
Todos os meus pêlos se ouriçaram.
O medo sufocou minha lucidez.
Forcei todas as minhas cordas vocais em busca de um grito.
Apenas gemidos se fizeram.
A escuridão materializada parecia ter criado olhos.
Olhos rubros de fogo.
Uma visão aterrorizante.
Fechei meus olhos em vista ao ataque iminente.
Por baixo das cobertas compeli todos os meus músculos a se despertarem.
“Oh meu Deus, oh meu Deus…”
A angústia enfim deu a centelha que meu corpo precisava.
Respirei fundo finalmente.
O gemido ganhou força e chegou a oitavas maiores.
Quase um grito.
Os músculos moveram-se, mesmo que ainda formigando.
Agitei cada um deles no intuito de fugir da agressão que estava por vir.
Tive um medo aterrorizante do que poderia ver.
“Pai Nosso, que estais no céu…”
Abri os olhos novamente.
O que quer que tivesse me ameaçando, havia ido embora.
A escuridão materializada se dissipara.
Meu corpo voltou a funcionar.
O quarto continuava escuro, mas apenas uma penumbra o cobria.
Tudo estava a vista novamente.
Mas algo estivera errado.
E provavelmente ainda estava.
Meus sentidos estavam aguçados agora.
Procurava alguma ameaça à integridade do meu sono.
Queria voltar a dormir, mas o medo havia se solidificado.
Em alguns cantos do quarto, a escuridão era mais negra.
Mas não parecia ameaçador.
Levantei.
Liguei a luz.
Virei-me subitamente.
Não havia nada a ser visto.
Nada de anormal.
Teria que voltar a dormir.
Mas e aquilo que me havia subjugado a pouco?
O que quer que tenha travado meus músculos talvez ainda estivesse por ali.
O medo estava presente.
Nada daquilo fazia sentido.
No entanto, eu presenciei tudo, e tinha certeza que fora real.
A maldade que senti sobre mim fora algo sobrenatural.
Flutuava sobre todo o meu corpo.
Era uma presença maligna, com certeza.
Peguei meu terço e coloquei em meu pescoço.
Desliguei a luz.
Deitei novamente na cama.
Respirei fundo.
“Pai Nosso, que estais no céu…”
Fechei os olhos.