O VENTO MORNO DA TARDE

O vento morno da tarde tocou o seu rosto e trouxe a seu espírito uma paz que não sentia a tempos. Estava cansada, muito cansada, de tudo e de todos. O mundo era grande demais para seus ombros. E era ainda maior, imenso, pois o egoísmo era como uma doença que ressecava o espírito e aumentava a distância entre as pessoas, fazendo com que um pedaço de terra de dez metros quadrados pareça conter milhares de anos-luz...

A ANÁTEMA SOB A VELHA FIGUEIRA (Parte 1)

Desde criança, ouvi de meu pai as histórias do que acontecera em Bela Vista alguns anos após o final da segunda guerra. Ele era apenas um jovem garoto naquela época, mas foi testemunha ocular de todo o terror que tomou conta desta pequena, mas próspera cidade, onde vivera até muitos anos após casar-se com minha mãe...

CENA DE CRIME

O dia amanhecera gelado. Uma densa neblina cobria toda a cidade desde as primeiras horas da madrugada, e naquele momento, as 6h30 da manhã, o mundo ainda parecia envolto em uma grande nuvem. Os primeiros raios solares já despontavam no horizonte, mas ainda não iluminavam suficientemente as ruas, e a luz artificial dos postes ainda era a única arma contra a escuridão completa...

AUTO DE FÉ – SEGUNDA PARTE: O JULGAMENTO

O salão era amplo e luxuoso, como a sala do trono de um rei em um grande castelo. Tudo era muito limpo e brilhante, em completa oposição à imundície escura em que esteve alojado nos últimos dias de sua vida. As pessoas que se encontravam no salão trajavam vestes limpas de altíssimo corte, roupas de pessoas importantes e poderosas...

AUTO DE FÉ – PRIMEIRA PARTE: A CELA

Havia cheiro de morte. A cela em que se encontrava tinha um forte odor de morte. Estava muito escuro, uma vez que a cela não tinha qualquer contato com o mundo exterior, mas estava ali há tanto tempo que seus olhos já estavam acostumados com a ausência de luz. A cela não era muito grande, tinha o teto abaulado e paredes maciças, tudo feito de pedra bruta. Não tinha piso nenhum, o chão era todo de terra, uma terra escura e estéril...

AQUI E LÁ

Os olhos se abrem. A relva fresca é agradável ao olfato. Assim como os olhos, suas narinas se abrem respirando o ar da manhã. “Que lindo dia!”, pensa consigo. “Mas afinal onde estou?” Olhou ao seu redor e viu um clarão aberto, uma bela campina com a relva baixa e bem cuidada. Não lembrava de ter estado ali algum dia, era um ambiente totalmente novo para ele. Encantador, mas...

INSANIDADE

O mundo é um lugar maravilhoso, desde que morram as pessoas certas. Foi isso que eu ensinei a eles todos, essa verdade incontestável. Dei o exemplo, matei as pessoas que deveriam morrer, tornei este mundo um lugar melhor, e eles me colocaram nessa gaiola. Deveriam me agradecer, mas como são tão burros, não entenderam nada. Mas vão entender, vão sim, de uma maneira ou de outra...